4.8.12

O futuro de Amanda I



“Eu quero mais. Muito mais.”
Amanda encerrou o recado sem despedidas, desligou o celular e o enfiou em um dos bolsos da calça jeans. Uma lágrima descia pela bochecha, solitária. Não queria criar um drama maior do que o necessário.  Aquele redemoinho, que revirava seus órgãos de cima a baixo, desde a cabeça até as entranhas, era suficiente.

Naquele instante, o mundo caiu em suas costas e não conseguiu mover mais nenhum dedo. Sentiu a brisa dar movimento aos fios rebeldes do cabelo curto e deixou que o peso lhe esmagasse pouco a pouco. No peito, uma pequena esfera crescia, pesada, e puxava-a para frente.

Amanda estava sentada na mureta de uma laje mal vigiada. Queria chegar ao topo de um prédio e ver o céu sem os limites dos corredores urbanos. Lá em cima, podia deleitar-se de uma tranquilidade rara e observar o voo amplo dos pássaros. Quem sabe sentir-se como um deles...

Impossível. E riu consigo mesma ao pensar nesta palavra.

Tudo parecia possível à sombra de sua tragédia. A garoa de ouro, vinda de um céu rosado, capaz de pintar o asfalto de turquesa, apontando assim o caminho óbvio para as grandes possibilidades: a eterna viagem, as companhias insanas e a carreira proibida. O entendimento entre pais e filha, entre todos os povos, a aclamada paz mundial. Triste, como o menino que observa o doce que não pode saborear, ela sentiu a fagulha. No fundo, em meio à escuridão, aquela fraca pulsação.

Por que não sentir-se como um pássaro?

Lá embaixo, passos apressados e carros barulhentos criavam o fluxo de uma terça-feira comum. Por dois segundos, Amanda compreendeu porque, às vezes, aqueles bichinhos trocavam a liberdade de suas asas por uma espiadinha àquele cenário hipnotizante. Com dificuldade, esticou o braço na ânsia de alcança-lo e então percebeu o tamanho de sua vontade de fazer parte. A bolinha em seu peito apertou.

Sem perceber, estava flutuando. O peso do mundo se dispersou em gotículas de alívio. Calma, foi se afastando da vastidão azul. Quando se deu conta, não teve tempo de pensar em muito. Não se deixou refletir sobre sua vida. Em vez disso, pensou sobre o futuro. O que a esperaria? Encheu-se de inspiração para desvendá-lo.

(Continua...)

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